sexta-feira, novembro 25, 2011

Pensar a Fome, tanto no Brasil, quanto na Somália, vai além de nós...


Os Filhos    da    Fome   





Filipa Saanan 

Caro Amigo Leitor, experimente não comer nada, mas nada mesmo por pelo menos dois dias, e terá assim o real conhecimento do que é a Fome. Isto feito, certamente comungará comigo do sentimento de revolta, diante a situação agonizante dos 40 milhões de famintos da Somália e dos 32 milhões de famintos do Brasil. Sentirá também, com toda certeza, ainda que infimamente, a dor de cada um deles, o desespero, o saber esvair-se dia a dia, a pele secando, a vida minguando... minguando, o morrer-se hora a hora.
Certamente os números citados acima poderão lhe causar espanto, mas estão corretos, é isto mesmo: Brasil e Somália são irmãos na Fome, na Miséria e na extrema Pobreza.
Ficar impassível diante tal quadro, creio impossível para qualquer um de nós. Ver o nosso semelhante mastigar lixo apodrecido [quando encontra]; suportar um profundo vazio em seu corpo; tomar água de barro e lama; sugar o caldo de pedras fervidas para sossegar os gritos do estômago... E sentir nossa impotência para reverter esta realidade cruel, confesso: é para mim o mais doído dos sentimentos.

Dirá Você, Caro Amigo: mas eu ajudo alguns organismos humanitários nacionais e internacionais; sou doador de cestas básicas para diversas famílias... etc...etc... eu também, respondo-lhe. Mas convenhamos, é pouco, é nada, insuficiente para que possamos dormir o sono dos justos. Eles, Os Filhos da Fome são milhões, nós centenas, quiçá milhares [?], pois bem: ai reside o que chamo de dolorosa impotência, de desesperada inutilidade, aliviamos a fome de poucos, e dos outros milhões que continuam famintos?

O Brasil é o quinto país do mundo em extensão territorial, ocupando metade da área do continente sul-americano. Há cerca de 20 anos, aumentaram os impostos, o fornecimento de energia elétrica e o número de estradas pavimentadas, além de um enorme crescimento industrial. Nada disso, entretanto, revertido para combater a pobreza, a desnutrição e as doenças derivadas da fome.

Pensar a Fome, tanto no Brasil, quanto na Somália, vai além de nós- andorinhas solitárias, digo pensar no sentido estratégico de políticas públicas concretas e eficazes, que toquem nas feridas da miséria, que curem definitivamente as chagas das vitimas. Os governantes apregoam em alto e bom som intervenções miraculosas, juram exterminar as desigualdades, , quando na verdade enganam nossos excluídos com meros placebos [desnecessário elencar - por todos sabidos] , enquanto estimulam o crescimento da fartura e da abundância de minorias já enriquecidas à custa da exploração de um povo sem voz, sem teto, sem rumo, sem destino.




Aos indiferentes a esta realidade, dedico minha ira e, incrimino cada um deles, pois não há exagero nas pinceladas deste retrato, não abusei das tintas: digo apenas e tão somente de uma verdade que sangra diante meus olhos que veem e choram. Se eles passam ao largo dos desamparados, lacram suas moradas para não ouvir o clamor das dores dos desesperados, trocam de calçada para não correr o risco de encostarem-se às chagas dos abandonados, que lhes sejam imputadas as penas de cúmplices, que a insônia devore suas noites, que lhes sejam dados todos os castigos bíblicos. Desejo e espero!

Ouso sonhar e buscar fazer por um mundo justo para todos, onde a equidade prevaleça, que cada ser humano como tal viva, com saúde, com educação, e principalmente que em sua mesa nunca falte o pão.

Jamais me calarei diante a iniquidade, a mentira, e a farsa-vigentes, que nos esbofeteia e violenta. Ainda que berrem os situacionistas de plantão, porque partilham dos mimos de Governantes corruptos. Tal gentalha não me causa temor: que me contestem, que me critiquem, suas vozes estão sujas do suor e do sangue dos inocentes, logo são ecos dos podres-poderes. E contra eles, estou inoculada.

Todavia, vacina não existe contra o suplício cotidiano que se acirra e se evidencia na vida dos rejeitados, submetidos à dor da fome, do sofrimento do corpo e da degeneração de sua humanidade.

Tudo isto me leva a crer que os Dirigentes do Brasil e da Somália, importunados pelos Filhos da Fome, no oculto de suas alcovas, pensam: Por que resistem? ? Ou, Por que ainda vivem?

Os Filhos da Fome são também Os Filhos dos Martírios!

“.... estamos experimentando, pelo lado mais sanguinário, a força de uma sociedade desigual, sombria, perversa e assassina, que cria métodos e instrumentos de “limpeza” e que ergue revólveres e facas, pedras e lâmpadas, palavras, atos e gestos contra os que “enfeiam” o higienismo  psicopata dos sistemas de privilégios”.

Embora meu brado caia em ouvidos mocos, seguirei clamando por justiça, e pelos direitos de cada um dos Famintos e dos Excluídos!

Quem sabe, outros indignados,juntem seus clamores aos meus e possamos unidos formar uma infinita corrente humana,forte e audaz capaz de promover definitivamente a construção de um Planeta,onde a Vida seja de maior valia.

5 comentários:

  1. Amiga, este artigo merece publicação nacional.
    Bjs, Valentina

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  2. Um grito que ecoa em nossa alma, faz pensar e revira -nos pelo avesso.
    Estou junto.
    Parabéns Filipa, por sua Voz sempre justa, que seu clamor faça mover muitos e muitos.
    Maria Zélia -BH

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  3. Sempre que leio Filipa acho que merecia estar em jornal de grande circulação a nivel nacional.Felizmente temos a LITERACIA, com excelente circulação internacional.
    Belvedere

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  4. Obrigada minhas queridas, mas não consigo me calar diante as desigualdades que nos cospem na cara, menos diante estes governantes bandidos.
    Bjs para todas. Filipa

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  5. Emocionante, chorei ao ler seu artigo.Quem sabe possamos ser uma corrente de andorinhas a lutar por nossos irmãos - vítimas de uma sociedade doente, malígna.
    Rosa Clemente

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Obrigada, volte sempre!
Filipa Saanan